O Mistério do Bodó
Foto: Arte Blog Bocas e Notícias
Anos atrás, havia uma criança de aproximadamente três anos que morava em uma comunidade na beira do rio. Seu pai, todos os dias, trazia bodó para o almoço. Dizia que comendo bodó a pessoa crescia forte e saudável.
Certo dia, quando iam almoçar, o pai da criança recebeu em sua casa a visita de um amigo que não via há muitos anos. E os dois foram conversar na sala. Conversando, conversando, o pai se esqueceu que o filho ficara sozinho à mesa.
Estando com muita fome, a criança comeu o bodó, sem separar as espinhas. Engolindo tudo, engasgou-se. Apavorada, começou a gritar e pedir ajuda.
O pai, entretido com a visita, não ligou aos gritos que vinham da cozinha. Quando voltou, encontrou a criança tombada no chão. Desesperado, tentou reanima-la, mas já estava sem vida. Muito triste velou o corpo de seu único filho. No dia seguinte, enterrou a criança no quintal de casa, sem lembrar que no inverno esse lugar alagava.
Diante desse fato, o homem resolveu mudar de moradia. E aquele local transformou-se em uma grande lagoa.
Anos depois, um pescador veio a esse lago, mas não sabia que nele guardavam mistérios. Estando no lago a pescar, ouviu um ruído atrás de sua canoa. Ele não ligou. Minutos depois, novamente, mas dessa vez ele tinha certeza de que era alguma coisa estranha que estava por vir. Os lagos – pensou ele – guardam tanto mistérios...
O inesperado aconteceu. Um bodó pulou em sua canoa. E disse:
- Me ajuda, me ajuda...
O pescador ficou admirado, vendo e ouvindo o peixe falar. Por sorte tinha uma arma e atirou nele. Muito nervoso, não conseguiu acertar e o bodó escapou, voltando para dentro do lago. Assustado, voltou para casa e contou o fato para a família e a vizinhança.
Os vizinhos contaram então que naquele lago morou um senhor e seu filho que morrerá engasgado com a espinha de um bodó. Lembraram que quando houve uma grande seca, viram o lugar onde o menino fora enterrado. Mas havia apenas um buraco. Suspeitam que aquele misterioso que pulou na canoa do pescador seria aquele menino que pedira ajuda.
Segundo contam os pescadores, o lago secou e aquele peixe misterioso deve ter fugido para outro lugar. O que eles temem é de um dia pegá-lo, o que quebraria o mistério do encanto.
Texto retirado do livro “Tabatinga e suas Lendas”, de Maria Auxiliadora Coelho Pinto e Cleuter Tenazor Tananta, 2011.